sábado, 11 de janeiro de 2014

AMBIENTE TÉRMICO OCUPACIONAL


Há temperaturas com as quais temos uma sensação de conforto, enquanto outras tornam-se desagradáveis e até prejudiciais à saúde.
As diferenças de temperatura são uma constante nos locais de trabalho, quer estes e situem a céu aberto ou em ambiente fechado. O desconforto térmico constitui um risco ocupacional que importa avaliar e controlar.
Calor ou frio em excesso e mudanças repentinas de um ambiente térmico quente para frio e vice-versa são condições inseguras que prejudicam a saúde.
Os efeitos de sobrecarga térmica num local de trabalho, dependem de factores de ordem climática ambiental do local, do posto de trabalho ou actividade a desenvolver, e das e das características individuais de cada trabalhador, tais como a idade, o peso, a condição física e especialmente o aparelho circulatório.
Como factores ambientais do local podemos considerar a temperatura, a humidade, o calor radiante (sol, fornos) e a velocidade do ar.
A regulação calórica do corpo humano procura mantê-lo a uma temperatura constante de 37º C. através da acção da circulação sanguínea na pele e nos tecidos subcutâneos.
Por sua vez, a temperatura sanguínea provém da energia libertada pelas células, a estabilidade dos factores como por exemplo o pH, a pressão arterial, a hidratação, e outros são essenciais para assegurar a actividade normal num individuo e contribuir para a saúde.
 
Condições ambientais para trabalho
A condição ambiental ideal – Ambiente neutro - para um local de trabalho situa-se (Dec. Lei 243/86):
·         Temperatura entre os 18°C e os 22°C, podendo em condições especiais atingir os 25°C;
·         Humidade relativa do ar entre 50% e 70%
·         Velocidade do ar de aproximadamente 0,12m/s, em ventilação natural e/ou artificial não poluída;
 
Exposição Ocupacional ao Calor
Quando exposto a color ambiental excessivo – ambiente quente - o organismo produz mais calor que usa para manter e regular a temperatura corporal. Ao promover a dilatação dos vasos sanguíneos da pele e dos tecidos subcutâneos faz deslocar parte do fluxo sanguíneo para essas regiões superficiais, o que dilui e aumenta o volume de sangue circulante com líquidos extraídos de outros tecidos. Com este ajuste circulatório sai favorecido o transporte de calor do centro do organismo para a superfície, com as glândulas sudoríparas a libertar suor para eliminar calor por evaporação.
Pela natureza da actividade desenvolvida são profissões com maior risco de exposição ao calor, os cozinheiros, padeiros, fundidores de metais, fabricantes de vidros, mineiros, e outros cuja actividade e cujo local de trabalho implique incidência de calor natural (insolação) ou calor induzido (fornos e radiações).
Quando submetido diariamente a altas temperaturas, o organismo procura adaptar-se por transformações fisiológicas, na busca de manter constante a temperatura do corpo, como por exemplo, a elevação do ritmo cardíaco ou o aumento da temperatura média do corpo.
Os riscos de exposição a temperaturas elevadas aumentam com o teor de humidade, que diminui o efeito refrescante, ou com o esforço físico prolongado, que aumenta o calor produzido pelos músculos.
A exposição prolongada a temperatura elevada pode causar um aumento da irritabilidade, dor de cabeça, incapacidade de concentração, ansiedade, fraqueza e depressão. Com maior gravidade podem ainda ocorrer alterações físicas como desidratação, doenças de pele e hipertermia.
 
Exposição Ocupacional ao Frio
Quando o corpo está exposto ao frio verifica-se o fenómeno oposto ao que ocorre nas situações de calor excessivo. Os vasos sanguíneos periféricos (pele e extremidades) contraem-se para reduzir a perda de calor, resultando baixa brusca da temperatura da pele, dos dedos das mãos e dos pés, das orelhas e do nariz e maior fluxo de sangue para órgãos vitais como o coração e o cérebro.
A habilidade manual está relacionada com o tato, pela movimentação dos pequenos músculos das mãos e flexibilidade das articulações, que quando expostas ao frio reduzem a actividade motora, a destreza e a força.
O tremor pelo frio condiciona muito o desempenho articular e a movimentação delicada dos músculos, levando a que cada indivíduo interrompa o trabalho frequentemente, para reaquecer suas mãos, tornando o trabalho mais lento e aumentando a margem de erros e acidentes.
As ocupações com maior risco de exposição ao frio – ambiente frio - são o trabalho em câmaras frigoríficas, trabalhos a céu aberto em condição de clima frio, nas zonas de refrigeração, entre outros.
Quando a temperatura desce para valores próximos de  – 1°C, pode ocorrer congelamento, alteração da estrutura celular e necrose dos tecidos.
O primeiro sinal de lesão por exposição ao frio é uma sensação de pontada aguda, adormecimento e anestesia dos tecidos atingidos.
A necrose por frio pode produzir desde uma lesão superficial com mudança da cor da pele, anestesia transitória, até o congelamento de tecidos profundos com isquemia persistente, trombose, cianose profunda e gangrena.
A hipotermia e resfriamento do corpo até uma temperatura potencialmente perigosa atinge principalmente as pessoas muito idosas ou muito jovens expostas ao ar frio (ventos) ou imersão em água fria. Os sintomas são graduais e subtis, ocorrendo movimentos lentos e desordenados, confusão mental, alucinações, perda da consciência e morte por parada cardíaca e respiratória.                  
Partes da pele podem congelar, sofrer lesões superficiais, ficar brancas, firmes e dolorosas e posteriormente escamar.

PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHO EM LOCAIS DE TEMPERATURAS ALTAS E BAIXAS.
 
A - AMBIENTE QUENTE:
 
Controlo técnico do ambiente de trabalho;
1)    Isolamento das fontes de calor para minimizar a irradiação de calor;
2)    Sistema de Ventilação e exaustão natural;
3)    Sistema de ventilação e exaustão forçada se a ventilação natural não for suficiente;
4)    Instalar sistemas de refrigeração mecânica;
5)    Automação do trabalho para diminuição do trabalho manual em esforço;
6)    Zona de transição para acomodação gradual à nova temperatura;

Organização e Práticas de trabalho
1)    Monitorização continuada do ambiente de trabalho;
2)    Avaliação de riscos e estabelecimento de plano de prevenção;
3)    Disponibilizar equipamentos de protecção individual adequados aos riscos identificados e avaliados ;
4)     Reposição hídrica adequada – beber quantidades de líquido frequentemente (água potável)
5)     Alterar o horário de trabalho para os períodos de menor calor
6)     Pausas para repouso e redução do tempo de exposição ao calor;
7)     Evitar trabalho isolado;

Informação e Instrução dos trabalhadores
1)    Informação aos trabalhadores sobre o risco da exposição ao calor, consequências, e medidas e comportamentos preventivos;

Comportamentos de autoprotecção recomendados
1)    Usar roupa fresca, protecção da cabeça e óculos adequados no caso de calor por radiação;
2)     Beber água fresca regularmente;
3)     Não ingerir bebidas alcoólicas; não fumar;
4)     Manter uma condição física saudável e evitar o trabalho sob efeito de fármacos incompatíveis;
5)     Em caso de mal-estar reportar de imediato os sintomas e solicitar ajuda e não manipular equipamentos ou conduzir veículos;
 
B - AMBIENTE FRIO:
Para os trabalhos externos e prolongados, recomenda-se uma boa alimentação rica em calorias e roupas quentes.
 
Controlo técnico do ambiente de trabalho;
1)    Isolamento térmico das partes metálicas e comandos manuais para temperaturas inferiores a -1ºC;
2)    Sistema de Ventilação e exaustão natural;
3)    Conceber os locais de trabalho em ambiente frio, sem assentos metálicos ou cadeiras desprotegidas;
4)    Sistema de ventilação e exaustão forçada se a ventilação natural não for suficiente;
5)    Prever zona de banho de emergência para protecção contra enregelamento brusco;
6)    Automação do trabalho para diminuição do trabalho manual em esforço;
7)    Zona de transição para acomodação gradual à nova temperatura;
 
Organização e Práticas de trabalho
1)    Monitorização continuada do ambiente de trabalho;
2)    Avaliação ambiental, tendo em conta a temperatura do ar, a velocidade do vento e a actividade física e determinar a temperatura de esfriamento equivalente;
3)    Avaliação de riscos e estabelecimento de plano de prevenção;
4)    Disponibilizar equipamentos de protecção individual adequados aos riscos identificados e avaliados;
5)    Uso de luvas e/ou mitenes em função da temperatura de exposição e contacto e grau de destreza manual;
6)    Para actividades na água ou com roupa molhada, com exposição a temperatura inferiores 2ºC efectuar troca de roupa frequente; 
7)    Usar roupa impermeável exteriormente em ambientes húmidos e trocar frequente de meias e / ou palmilhas.
8)    Para trabalhos expostos a muito baixas temperaturas, disponibilizar espaços aquecidos autónomos para recuperação térmica;
9)    Interromper o trabalho sempre que por insuficiência de roupa se constate hipotermia em algum trabalhador e adoptar novas medidas preventivas;
10) Prever zona de banho de emergência para protecção contra enregelamento brusco;
11)  Programar o tempo de exposição a ambiente frio.
12)  Alterar do horário de trabalho para os períodos ambientalmente menos agressivos;
13)  Evitar trabalho solitário em ambientes frios;
14)  Evitar sobrecarga de trabalho cuja sudação humedeça vestuário;
15)  Exames médicos de pré-admissão e regularmente periódicos;
 
Informação e Instrução dos trabalhadores
1)    Informação aos trabalhadores sobre o risco da exposição ao frio, consequências, e medidas e comportamentos preventivos;
 
Comportamentos de autoprotecção recomendados
1)     Usar vestuário de agasalho de lã, resguardo e pescoço, protecção da cabeça (gorro), dos olhos e calçado de protecção do frio e humidade;
2)    Beber bebidas doces, sopa quente e evitar diuréticos;
3)    Não ingerir bebidas alcoólicas; não fumar;
4)    Em caso de esfriamento não usar fontes de calor direto sobre a pele;
5)    Manter uma condição física saudável e evitar o trabalho sob efeito de fármacos que possam interferir na temperatura corporal;
6)    Em caso de mal-estar reportar de imediato os sintomas e solicitar ajuda e não manipular equipamentos ou conduzir veículos;
7)    Não se exponha à situação de enregelamentos;
8)    Pessoas que apresentem alteração mental ou motora por exposição a baixa temperatura devem ser imediatamente encaminhadas para um hospital;
9)    Evite, se possível, caminhar se os dedos do pé foram acometidos pelo frio.
10) Não deixe de tratar as lesões pelo frio, podem ocasionar úlceras na pele e, em casos extremos, podem levar à gangrena da parte afetada.